 
A
 oferta de cursos online, mais recente da modalidade de educação a 
distância (EaD), vem se ampliando em inúmeras instituições pelo mundo. O
 lançamento em julho deste ano de consórcios entre instituições de 
ensino, como as tradicionais Universidade de Harvard e o Massachusets 
Institute of Technology (MIT),
 abre a possibilidade de alunos realizarem cursos nas melhores 
universidades do mundo, a um baixo custo e sem grandes deslocamentos. Os
 líderes desses consórcios usam em seus discursos palavras como 
“revolução”. Para Silvestre Novak, doutor em educação e professor da 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a expansão da EaD é 
um fenômeno irreversível e está provocando uma revolução nos sistema 
educacional brasileiro. 
Esse fato reflete, em certa medida, os desafios da educação na 
sociedade contemporânea, “onde os paradigmas historicamente aceitos não 
mais dão conta para a definição de modelos pedagógicos”, afirma o 
pesquisador.
No
 entanto, a perspectiva da internacionalização das universidades não 
está atrelada unicamente à questão da EaD, mas também ao processo de 
democratização do acesso a essas tecnologias. Por vezes, as populações 
que mais necessitam de educação são, exatamente, aquelas com menos 
acesso às tecnologias. “Na área da educação é possível que os países que
 estão ‘exportando’ possibilidades de conhecimento e crescimento 
acadêmico, o ofereça por meio de programas e artefatos digitais que 
ainda não existam nos outros países, podendo assim dificultar e até 
inviabilizar o processo”, destaca Patrícia Vasconcelos Almeida, doutora 
em linguística aplicada e professora da Universidade Federal de Lavras 
(Ufla).
Diante
 deste desafio, busca-se atingir um novo cenário: o da mundialização, 
que pretende atingir outras esferas, como a política, social e 
educacional. “Isso significa um aprofundamento das relações 
internacionais, da ampliação de intercâmbios e da troca de experiências,
 que valorizam sobremaneira o multiculturalismo”, pontua Silvestre 
Novak.
Formas de ampliação
Há
 dois tipos de ampliação acontecendo em educação a distância, de acordo 
com Marcelo Buzato, professor do Instituto de Estudos de Linguagem da 
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na área de linguagem, 
tecnologia e ensino. Uma delas está ligada à expansão e à diversificação
 da oferta de cursos tradicionais em formato online para atingir 
públicos específicos, mas ainda dentro de um modelo próximo ao da 
educação presencial, sobretudo no que se refere à relação entre ensino, 
aprendizagem, conhecimento e tecnologias. Esse é o caso de cursos de 
graduação de baixa interatividade, feitos à base de vídeo-aulas, com 
apostilas impressas e exercícios de instrução programada. “Em geral, 
esse modelo vem atrelado a uma estratégia de redução de custos de 
infraestrutura e de reaproveitamento de materiais já prontos, de autoria
 de docentes mais capacitados, que são usados por professores menos 
capacitados e de salário menor, e servem mais como aplicadores de um 
design institucional feito de forma mais centralizada”, explica Marcelo 
Buzato. Neste caso, o modelo tende a reforçar os defeitos do curso e 
provoca uma desconfiança indiscriminada da opinião pública com respeito à
 EaD, destaca.
Um
 segundo tipo de ampliação, mais experimental e motivado por questões 
conceituais e filosóficas, é aquele feito com base no modelo de 
abertura, os chamados open software,open science, open media, open education,
 com potencial para transformações na relação entre ensino, 
aprendizagem, conhecimento e tecnologias. Em alguns casos, pode resultar
 na emergência de processos qualitativamente novos e promissores, mais 
afinados com a chamada cultura digital, dando sustentação a espaços de 
afinidade e comunidades virtuais. “Esse modo de fazer EaD demanda do 
aprendiz outro tipo de competência para gerir sua própria formação, e, 
dos educadores, outro tipo de design instrucional. Permite a quem 
aprende se apropriar do sistema”, explica Buzato. A partir daí, uma 
grande variedade de práticas colaborativas seria possível na construção 
de percursos de aprendizagem mais personalizados, que atendem a uma gama
 maior de estilos e que encantam a nova geração de aprendizes.
Aumento de ofertas
Ações mais recentes procuram adaptar o conteúdo presencial ao ambiente virtual. É o caso da Khan Academy,
 organização fundada em 2008, sem fins lucrativos, e que tem realizado 
várias das ações listadas pela Coursera e edX, como a criação de 
ferramentas e recursos online que permitem personalizar o ensino de 
acordo com o ritmo individual de cada aluno. Desde 2011, alguns vídeos 
começaram a ser traduzidos para o português pela Fundação Lemann. 
Assim,
 iniciativas como essa funcionam como um laboratório para entender como 
se dá o processo de ensino e aprendizagem online, além de ser uma 
importante ferramenta para melhorar e enriquecer o ensino dentro das 
salas de aula.
No
 Brasil, programas de EaD desenvolvidos por grandes instituições de 
ensino, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 
trabalham o conceito de aprendizagem em rede, o que difere 
substantivamente do simples uso das tecnologias de informação nos 
processos educativos. Nessa perspectiva, o ensino online passa a ser 
entendido, principalmente, como uma metodologia de ensino. Mais do que 
uma ferramenta, este tipo de ensino passa a funcionar também como um 
laboratório, com potencial para transformações na relação entre 
ensino-aprendizagem.
O sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB),
 instituído em 2006 para o desenvolvimento da modalidade de EaD, busca 
expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação 
superior no país. Segundo dados oficiais da instituição, de julho de 
2007 a 2009 foram instalados 557 polos de apoio presencial, com 187.154 
vagas criadas. Além de fomentar a EaD nas instituições públicas de 
ensino superior, a UAB apoia pesquisas em metodologias de ensino 
superior respaldadas em tecnologias de informação e comunicação. 
A Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp),
 por sua vez, também busca consolidar a utilização das tecnologias da 
comunicação e da informação no ensino superior. Os cursos atualmente 
oferecidos são semipresenciais, mesclando aulas presenciais com recursos
 tecnológicos característicos da educação a distância, como plataformas 
virtuais de aprendizagem e televisão. A Univesp é a quarta universidade 
estadual paulista, instituída pela Lei 14.836, de 20 de julho deste ano,
 devendo atingir a marca de 24 mil alunos em quatro anos. 
Ampliação é sinônimo de revolução?
Buzato,
 da Unicamp, pondera que, como aconteceu com toda nova tecnologia na 
educação (a exemplo da lousa, do rádio, do cinema, da televisão), essa 
“nova” educação a distância, apoiada nas redes digitais, abre uma série 
de possibilidades que parecem atender aos mais diversos anseios. “Não 
acredito em revolução”, esclarece o pesquisador, “prefiro, pensar em um 
processo continuo pelo qual duas coisas, ou seja, sociedade e 
tecnologia, que são igualmente heterogêneas, cheias de controvérsias 
internas e de interesses em conflito, se transformam em uma coisa só, em
 associações de elementos que vão redefinindo-se uns aos outros e, com 
isso, gerando certos efeitos globais e locais.”.
Já
 para a linguista da Ufla “toda forma de oferecer e buscar conhecimento é
 revolucionária”. Ela acredita que inúmeras atitudes e escolhas 
educativas revolucionaram, e ainda revolucionam, o contexto de 
ensino-aprendizagem a cada dia.
No
 que diz respeito a universidades brasileiras que se dispõem a oferecer 
cursos online, muitos problemas ainda são enfrentados. “Ainda temos 
muito poucos profissionais realmente capacitados para atuar. Estamos 
todos, coordenadores, auxiliares, técnicos em tecnologia, 
professores-formadores, tutores e cursistas, aprendendo a formatar e 
fazer os cursos online funcionarem com a qualidade que se faz 
necessária. É neste ponto que penso que a revolução está. Em se aprender
 a ensinar e a como aprender neste contexto educacional”, elucida 
Patrícia.
Por: Maria Teresa Manfredo
http://www.educacaoadistancia.blog.br/a-expansao-da-educacao-a-distancia-no-mundo